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At Chain Reaction Apophenia, Culturgest Porto


Albert Camus escreveu que a única questão filosófica verdadeiramente importante é o suicídio – saber se a vida vale a pena viver ou não. A reflexão que o francês desenvolveu sobre o assunto levou-o a concluir que “sim”. Havia, contudo, duas outras repostas possíveis: “não” e “pelo sim, pelo não, é melhor saber como resolveria o assunto”. Esta última parece corresponder à posição de Isabel Cordovil, para quem as questões da morte (e, sobretudo, da pena de viver a vida) são recorrentemente tratadas com distanciamento irónico.

A peça incluída em Apofenia é exemplar dessa postura. Não obstante a relação que estabelece com os fantasmas do sofrimento psicológico e da dependência química, o que parece decisivo em Untitled (10000mg alprazolam, 1000mg sucrose) é o modo como a sua letalidade foi cozinhada, empratada e servida: o tempero da dormência com uma pitada de açúcar, a iguaria esférica sobre a taça litúrgica, a promessa de uma solução mascarada de obra de arte, feita para se ver, nunca para se tocar.

Bruno Marchand, 2021






Untitled (10000mg alprazolam, 1000mg sucrose)
2020


Untitled (10000mg alprazolam, 1000mg sucrose), 2020

Composição química composta pelo mínimo possível que me mataria tendo em conta o meu peso e altura, uma “spoon full of sugar to help the medicine go down” (Mary Poppins), taça de latão
8 x 6 cm




The bare minimum that might kill me