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Como água na água

2020

SOLO SHOW, EGEU






COMO ÁGUA NA ÁGUA



Exposição Individual de Isabel Cordovil

Projecto Literário Alcazar

Egeu, 17.09 –— 2020



Momento inicial do projecto Alcazar, projecto editorial colectivo organizado pelo EGEU e que junta artistas literários, plásticos e visuais, Como água na água, de Isabel Cordovil, abre um caminho a partir das ideias de mito e de ruína, explorando a intenção de documentar um espaço inexistente.


Procurando modalidades de ocupação como a solubilidade, a liquidificação e as tensões adjacentes a um processo documental sem cenário original, a exposição individual de Isabel Cordovil terá simultaneamente uma função de abertura e de fechamento dentro de Alcazar: abertura no sentido em que funcionará como referência, possibilitando uma exploração posterior; fechamento no sentido em que irá delimitando o espaço, tornando-o mais tangível.


É, contudo, enganador pensar nesse confronto como uma forma de oposição. Pelo contrário, é justamente por culpa dessa tensão entre abertura e fechamento que se contempla uma possibilidade transversal à referência e à sombra. Há um mundo a inaugurar-se a cada dobra de saliva. Que é também maresia. Ou rio, pedra. Como há também um mundo a fechar-se no nó de cada palavra. Por um lado, sim, há na ausência o molde de um corpo ido, o sublinhar de um tempo irrecuperável (os lençóis de uma manhã sozinha, por exemplo). Mas não é também isso o início do traço de uma nova silhueta, delineada nos limites das marcas de suor, mesmo que invisível?

O exercício é extensível. Ver. Olho o olho ou olho o olho que olha? E de outra forma, mais longe: há em cada novo hino a pretensão definitiva de uma história poética em epílogo, uma epístola repetível? Ou mais perto: um copo entre distâncias, com o gelo a derreter num bar em nuvem, uma despedida. Ou de outra forma, quando o primeiro toque como febre de uma mão venenosíssima. Guardar o vento ou tocar a pedra?


“And I’ve dreamt of your desiring, so sure, so rooted - magnificent. We don’t have too much time.”1 Que raíz? “Second skins to be in second worlds that are just as home-
like and wholesome”2. Em tudo isto há água. E talvez a ideia de uma idealização a partir de um ponto de vista póstumo seja simples: juntar o som, a curva, o fosso, a flor e a mentira - todos os cantos da chuva. Primeiro, ser a pele que cada um deixa em pó nos passeios. Depois, ser o cheiro que a água do mesmo suor levanta quando cai sobre as ruas depois de
feita nuvem. Petrichor. Tempo, claro. Como água na água.



A. Lenz



1 To Hold Fire Still: 15-16. Isabel Cordovil, 2019
2 ibid.: 39.